quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

E a aventura teve que ser interrompida...

Saí de Cochin e fui para Kumarakom, que é um vilarejo de Kerala conhecida pelos seus rios, plantações de Coco, massagens e tratamentos ayuvedica. Descobri que Kerala tem 24 rios, sendo que 22 desembocam no mar da Arábia que banha a Índia!

Cheguei em Kumarakom e fui direto fazer uma massagem que durou 2h30min e foi a melhor e mais barata massagem que eu já fiz na vida... Passei um dia tranquilo e antes de dormir enviei uma mensagem para minha irmã para avisá-la que estava com o telefone do Brasil ligado, pois depois dessa jornada e uma boa quantidade de chips de lugares diferentes ninguém nunca sabia direito em que número me ligar se quisesse falar comigo! Fui dormir e quando acordei, tinha uma mensagem da minha Irma pedindo para eu ligar para ela. Gelei, pois sempre que alguma coisa não está bem, ela me manda uma mensagem pedindo para eu ligar, sem falar do que se trata!



Bom, era 6h da manha na India, portanto 10h30 da noite no Brasil... Estava indo para um passeio de barco em um dos muitos rios de Kerala para ver as centenas de espécies de pássaros da região acordarem! Estava no barco, vendo uma paisagem maravilhosa, quando soube que a minha mãe está com um estrangulamento entre vértebras, que está pressionando a medula e ela está perdendo os movimentos dos braços e pernas. Terá que fazer uma cirurgia de emergência!

A única coisa que pensei na hora foi: Qual será o próximo voo que eu consigo pegar para o Brasil? E então lembrei que quando terminei o curso de meditação me veio na cabeça: “Será que eu aprendi essa técnica porque tem coisa mais difícil vindo por aí e eu vou ter que manter minha cabeça no lugar?” Bom, coincidência ou não, veio...

Terminei o passeio que foi realmente lindo... ver o dia amanhecer e os pássaros dormindo, acordando, voando em uma paz indescritível foi realmente sensacional, ainda mais pelo momento que eu estava passando... Foi bom estar naquele lugar para receber aquela notícia, me acalmei e pude lembrar que tudo passa, isso também irá passar!  Então encontrei com o meu guia preferido, Lijo e disse a ele o que estava acontecendo e que eu precisava sair dali pois estávamos no meio do nada, sem acesso a internet ou telefone funcionando direito e eu precisava começar a tomar as providências para minha volta. Minha mãe precisava de mim e eu não podia continuar viajando com tudo isso acontecendo no Brasil.

Fomos para o hotel para eu arrumar as malas e irmos para o nosso próximo destino, Marari Beach, pois lá era um lugar com mais infra-estrutura. No caminho, Lijo me perguntou:
 “Madame (não havia jeito de convencê-lo a me chamar pelo nome...) a senhora tem irmãos e irmãs?”
Então eu respondi: “Sim, Lijo, tenho duas irmãs mais velhas.”
“Não tem nenhum irmão?”
 “Não!”
“Então madame, eu serei o seu irmão daqui pra frente, o seu irmão indiano. Você pode contar comigo para qualquer coisa ok?”

Lijo e eu estávamos convivendo já a uns 4 dias, praticamente o tempo todo pois ele era meu guia e motorista. Já sabíamos muito um da vida do outro e realmente já tinha uma grande consideração por ele. Um homem bom, querendo fazer o melhor por ele e pelos outros...
“Ok Lijo, seremos irmãos de coração daqui para frente! Obrigada!”

Tentei não me emocionar muito pois não era hora de deixar a emoção rolar. Cabeça no lugar era o que eu precisava naquele momento. Chegamos em Marari e consegui arranjar tudo para minha volta... A saga não seria muito fácil pois estávamos a aproximadamente 200km de Cochin, o que na India significa 4 horas de carro. Chegando em Cochin teria que pegar um voo para Mumbai, então um voo de 10 horas até Londres e outro voo de 12 horas até o Brasil. Não conseguiria chegar em menos de 2 dias, mas chegaria. Plano definido e execução iniciada!

Liguei para minha mãe e contei que estava voltando... Ela não conseguiu nem disfarçar a alegria e dizer que não precisava... Isso mesmo, vem logo! Dia seguinte ainda tive que ficar em Marari, pois só consegui voo para o Brasil no sábado... Então já que estava lá, resolvi aproveitar... O hotel tinha uma praia privada, e como já estava com tudo pronto para minha volta e minha mãe estava estável, achei que conseguiria curtir o meu último dia de índia visto que não tinha mais nada a fazer! Peguei meu livro e fui para a praia e quando eu menos esperava, lá estavam eles... Meu último presente nessa jornada que me deu tantas alegrias e me proporcionou tantos aprendizados! Um casal de golfinhos, bem na minha frente, fazendo uma festa de despedida!!! Foi um segundo, 4, 5 pulos e um Adeus inesquecível! Ver um casal de golfinhos na India no meu último dia de viagem foi realmente fabuloso! Passei o dia na praia feliz por tudo que eu vivi e no dia seguinte segui para Cochin.

Tinha planejando fazer algumas pequenas compras em Delhi, mas como não iria mais para Delhi, resolvi parar na loja de artesanato do meu amigo Raja quando cheguei em Cochin! Foi muito bom revê-lo, ele ligou para sua mulher e então eu pude me despedir dela e combinamos que quando eu voltar iremos todos viajar juntos pois Raja tem irmãos em Delhi, em Kashimiri e em alguns outros destinos inusitados da Índia... Isso mesmo, quando eu voltar. Sinceramente não sei quando será, daqui 2 meses ou daqui 2 anos, mas voltarei! Muita coisa ficou para traz... Ganghi, Taj Mahal, orfanato, servir no vipassana... minha jornada na Índia não chegou ao fim. Incrível como esse é um país de extremos. Passei a odiar e amar a índia e os indianos ao mesmo tempo.

Saindo de lá fui para Mumbai e tive uma noite terrível. Era feriado muçulmano e Mumbai, que é a capital financeira da Índia e possui 21 milhões de habitantes, tem todos os problemas de uma cidade grande, porém vale lembrar que trata-se de uma cidade grande na índia, o que torna tudo bem mais complicado. Sinceramente Mumbai é a cidade mais feia que eu já vi na vida! É uma grande, grande favela de 21 milhões de habitantes... mas o mais impressionante é que o índice de criminalidade é baixíssimo. Passei 2 horas no transito para andar 20km pois todos os 7,5 milhões de muçulmanos que vivem na cidade estavam na rua, festejando. Um verdadeiro caos!!! Queria ir a uma loja de especiarias pois os meus livros de culinária recém adquiridos na Índia, me fizeram acreditar que não poderia ir para casa sem Cury, gengibre em pó e masala. Depois de 2h no caro, o motorista pára no meio da mais horrorosa das favelas e diz: Chegamos!!! Eu quase infartei. 

Andamos uns 50 metros e eu desisti. Não podia continuar andando no meio daquela favela, cheirando carniça, com um monte de mendigo em volta. Por mais que em Mumbai a criminalidade seja quase nula meus instintos de proteção Brasileiros não me permitem entrar em um lugar desse sem morrer de medo! Disse que não queria mais ir e voltei para o carro. Então ele disse que aquele era um atalho para chegarmos mais rápido, mas ele daria a volta... Bom, a paisagem não melhorou muito, mas chegamos são e salvos. Comprei meus temperos e implorei para ele me levar para qualquer lugar onde eu pudesse comer algo pois sai de Marari as 8h da manhã e isso já era 10h da noite e eu não tinha comido nada... 
O jantar pelo menos salvou a noite. Ele me deixou no Trishna Restaurant, um restaurante de frutos do mar que realmente vale a visita! Voltei pro hotel, empacotei minhas coisas e fui dormir pois no dia seguinte a jornada começava logo cedo!

Fiz muitos planos para minha volta ao Brasil, imaginei muitas situações e muitas delas já não aconteceram. Esperava que minha volta tivesse um gosto mais gostoso. Estou preocupada mas ao mesmo tempo feliz por poder estar com a minha mãe em uma hora como essa, graças a Deus eu posso voltar, e rápido! E como eu sempre digo: A vida acontece enquanto a gente faz planos... então aqui estou eu, no avião quase na metade do meu caminho de volta e deixo aqui o pedido para que quem estiver lendo esse post mande boas energias para a Dona Helecir, uma mulher forte, divertida e positiva que me ensinou quase tudo que eu sei.

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