quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

E a aventura teve que ser interrompida...

Saí de Cochin e fui para Kumarakom, que é um vilarejo de Kerala conhecida pelos seus rios, plantações de Coco, massagens e tratamentos ayuvedica. Descobri que Kerala tem 24 rios, sendo que 22 desembocam no mar da Arábia que banha a Índia!

Cheguei em Kumarakom e fui direto fazer uma massagem que durou 2h30min e foi a melhor e mais barata massagem que eu já fiz na vida... Passei um dia tranquilo e antes de dormir enviei uma mensagem para minha irmã para avisá-la que estava com o telefone do Brasil ligado, pois depois dessa jornada e uma boa quantidade de chips de lugares diferentes ninguém nunca sabia direito em que número me ligar se quisesse falar comigo! Fui dormir e quando acordei, tinha uma mensagem da minha Irma pedindo para eu ligar para ela. Gelei, pois sempre que alguma coisa não está bem, ela me manda uma mensagem pedindo para eu ligar, sem falar do que se trata!



Bom, era 6h da manha na India, portanto 10h30 da noite no Brasil... Estava indo para um passeio de barco em um dos muitos rios de Kerala para ver as centenas de espécies de pássaros da região acordarem! Estava no barco, vendo uma paisagem maravilhosa, quando soube que a minha mãe está com um estrangulamento entre vértebras, que está pressionando a medula e ela está perdendo os movimentos dos braços e pernas. Terá que fazer uma cirurgia de emergência!

A única coisa que pensei na hora foi: Qual será o próximo voo que eu consigo pegar para o Brasil? E então lembrei que quando terminei o curso de meditação me veio na cabeça: “Será que eu aprendi essa técnica porque tem coisa mais difícil vindo por aí e eu vou ter que manter minha cabeça no lugar?” Bom, coincidência ou não, veio...

Terminei o passeio que foi realmente lindo... ver o dia amanhecer e os pássaros dormindo, acordando, voando em uma paz indescritível foi realmente sensacional, ainda mais pelo momento que eu estava passando... Foi bom estar naquele lugar para receber aquela notícia, me acalmei e pude lembrar que tudo passa, isso também irá passar!  Então encontrei com o meu guia preferido, Lijo e disse a ele o que estava acontecendo e que eu precisava sair dali pois estávamos no meio do nada, sem acesso a internet ou telefone funcionando direito e eu precisava começar a tomar as providências para minha volta. Minha mãe precisava de mim e eu não podia continuar viajando com tudo isso acontecendo no Brasil.

Fomos para o hotel para eu arrumar as malas e irmos para o nosso próximo destino, Marari Beach, pois lá era um lugar com mais infra-estrutura. No caminho, Lijo me perguntou:
 “Madame (não havia jeito de convencê-lo a me chamar pelo nome...) a senhora tem irmãos e irmãs?”
Então eu respondi: “Sim, Lijo, tenho duas irmãs mais velhas.”
“Não tem nenhum irmão?”
 “Não!”
“Então madame, eu serei o seu irmão daqui pra frente, o seu irmão indiano. Você pode contar comigo para qualquer coisa ok?”

Lijo e eu estávamos convivendo já a uns 4 dias, praticamente o tempo todo pois ele era meu guia e motorista. Já sabíamos muito um da vida do outro e realmente já tinha uma grande consideração por ele. Um homem bom, querendo fazer o melhor por ele e pelos outros...
“Ok Lijo, seremos irmãos de coração daqui para frente! Obrigada!”

Tentei não me emocionar muito pois não era hora de deixar a emoção rolar. Cabeça no lugar era o que eu precisava naquele momento. Chegamos em Marari e consegui arranjar tudo para minha volta... A saga não seria muito fácil pois estávamos a aproximadamente 200km de Cochin, o que na India significa 4 horas de carro. Chegando em Cochin teria que pegar um voo para Mumbai, então um voo de 10 horas até Londres e outro voo de 12 horas até o Brasil. Não conseguiria chegar em menos de 2 dias, mas chegaria. Plano definido e execução iniciada!

Liguei para minha mãe e contei que estava voltando... Ela não conseguiu nem disfarçar a alegria e dizer que não precisava... Isso mesmo, vem logo! Dia seguinte ainda tive que ficar em Marari, pois só consegui voo para o Brasil no sábado... Então já que estava lá, resolvi aproveitar... O hotel tinha uma praia privada, e como já estava com tudo pronto para minha volta e minha mãe estava estável, achei que conseguiria curtir o meu último dia de índia visto que não tinha mais nada a fazer! Peguei meu livro e fui para a praia e quando eu menos esperava, lá estavam eles... Meu último presente nessa jornada que me deu tantas alegrias e me proporcionou tantos aprendizados! Um casal de golfinhos, bem na minha frente, fazendo uma festa de despedida!!! Foi um segundo, 4, 5 pulos e um Adeus inesquecível! Ver um casal de golfinhos na India no meu último dia de viagem foi realmente fabuloso! Passei o dia na praia feliz por tudo que eu vivi e no dia seguinte segui para Cochin.

Tinha planejando fazer algumas pequenas compras em Delhi, mas como não iria mais para Delhi, resolvi parar na loja de artesanato do meu amigo Raja quando cheguei em Cochin! Foi muito bom revê-lo, ele ligou para sua mulher e então eu pude me despedir dela e combinamos que quando eu voltar iremos todos viajar juntos pois Raja tem irmãos em Delhi, em Kashimiri e em alguns outros destinos inusitados da Índia... Isso mesmo, quando eu voltar. Sinceramente não sei quando será, daqui 2 meses ou daqui 2 anos, mas voltarei! Muita coisa ficou para traz... Ganghi, Taj Mahal, orfanato, servir no vipassana... minha jornada na Índia não chegou ao fim. Incrível como esse é um país de extremos. Passei a odiar e amar a índia e os indianos ao mesmo tempo.

Saindo de lá fui para Mumbai e tive uma noite terrível. Era feriado muçulmano e Mumbai, que é a capital financeira da Índia e possui 21 milhões de habitantes, tem todos os problemas de uma cidade grande, porém vale lembrar que trata-se de uma cidade grande na índia, o que torna tudo bem mais complicado. Sinceramente Mumbai é a cidade mais feia que eu já vi na vida! É uma grande, grande favela de 21 milhões de habitantes... mas o mais impressionante é que o índice de criminalidade é baixíssimo. Passei 2 horas no transito para andar 20km pois todos os 7,5 milhões de muçulmanos que vivem na cidade estavam na rua, festejando. Um verdadeiro caos!!! Queria ir a uma loja de especiarias pois os meus livros de culinária recém adquiridos na Índia, me fizeram acreditar que não poderia ir para casa sem Cury, gengibre em pó e masala. Depois de 2h no caro, o motorista pára no meio da mais horrorosa das favelas e diz: Chegamos!!! Eu quase infartei. 

Andamos uns 50 metros e eu desisti. Não podia continuar andando no meio daquela favela, cheirando carniça, com um monte de mendigo em volta. Por mais que em Mumbai a criminalidade seja quase nula meus instintos de proteção Brasileiros não me permitem entrar em um lugar desse sem morrer de medo! Disse que não queria mais ir e voltei para o carro. Então ele disse que aquele era um atalho para chegarmos mais rápido, mas ele daria a volta... Bom, a paisagem não melhorou muito, mas chegamos são e salvos. Comprei meus temperos e implorei para ele me levar para qualquer lugar onde eu pudesse comer algo pois sai de Marari as 8h da manhã e isso já era 10h da noite e eu não tinha comido nada... 
O jantar pelo menos salvou a noite. Ele me deixou no Trishna Restaurant, um restaurante de frutos do mar que realmente vale a visita! Voltei pro hotel, empacotei minhas coisas e fui dormir pois no dia seguinte a jornada começava logo cedo!

Fiz muitos planos para minha volta ao Brasil, imaginei muitas situações e muitas delas já não aconteceram. Esperava que minha volta tivesse um gosto mais gostoso. Estou preocupada mas ao mesmo tempo feliz por poder estar com a minha mãe em uma hora como essa, graças a Deus eu posso voltar, e rápido! E como eu sempre digo: A vida acontece enquanto a gente faz planos... então aqui estou eu, no avião quase na metade do meu caminho de volta e deixo aqui o pedido para que quem estiver lendo esse post mande boas energias para a Dona Helecir, uma mulher forte, divertida e positiva que me ensinou quase tudo que eu sei.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Kerala: um balsamo pós Vipassana


Saí do Vipassana e tinha já decidido por recomendações da Bellina (Kristin, minha amiga americana que mora em Firenze e morou 6 meses na India) ir para Kerala. Kerala, que significa terra do coco, é o estado mais ao sul da India, logo trata-se de uma região tropical com belas paisagens naturais. Saindo daqui vou para o norte, que é a parte sagrada e caótica da Índia. Pensei ser uma boa forma de retomar a vida normal aos poucos. Passar 10 dias sem falar e depois ir para um lugar caótico não parecia fazer muito sentido, então vim para o sul para ir me adaptando aos poucos com uma vida mais tranquila esses dias e depois vou para o caos.

Meu maior desejo era tomar um banho de chuveiro... Acordei as 4am, fiz minha última sessão de meditação até as 6h30am, depois fui tomar café da manhã e tenho que confessar que a comida do centro era muito boa (esta avaliação leva em consideração o quesito sabor e não higiene) e então fui para meus aposentos para arrumar a mala e tomar banho, mas não tinha agua, nenhuma! Nem quente nem fria, nenhuma gotinha! Então tomei aquele banho de gato e fui pro aeroporto. Duas horas até Mumbai, mais duas horas de voo até Cochin, capital de Kerala e depois mais uma hora de taxi até o hotel. Quase tive um treco pois o bairro era medonho, mas quando cheguei no hotel quase chorei de felicidade. Era um hotel 5 estrelas, nos padrões internacionais de um hotel 5 estralas mas com preços Indianos! Meu quarto era sensacional ainda mais depois do referencial que eu estava na cabeça! O chuveiro abençoado! Essa é uma verdade que ficou mais evidente em mim! Me adapto a qualquer tipo de lugar ou situação mas gosto mesmo de um conforto! Parece obvio, mas tem gente que não liga... Eu não, adoro um lençol cheiroso, um serviço bom e uma piscina no último andar do hotel. Posso perfeitamente viver sem, mas gosto muito quando posso ter! E aqui eu posso pois é barato demais!

Passei dois dias em Cochin, e visitei vários museus e igrejas pois Kerala é o único estado católico da India. Fui até na Igreja de São Francisco de Assis que sou devotíssima (cética mas devota de São Francisco, essa sou eu!). No final da manhã, Lijo, meu guia indiano pessoal e intransferível, pois afinal uma mulher não pode ficar andando sozinha pela Índia, me levou em uma loja de artesanatos maravilhosa! O Buda dos meus sonhos, entalhado em madeira e feito a mão estava lá me esperando! E uma caixinha maravilhosa estava lá também, só olhando pra mim, mas ela era o olho da cara e decidi não comprar. O dono da loja era uma simpatia, e quando vi, estávamos no meio da loja, sentados tomando chá, olhando juntos para a caixinha de tempos em tempos e falando sobre BRICS, adaptações culturais na índia devido a globalização e as semelhanças e diferenças dos nossos países. Uma hora de conversa se passou e 40% de desconto depois eu resolvi comprar a caixinha!

Fiz um drama e disse: “Agora vou ter que ir pra casa pois você acabou com o meu dinheiro.”

E então ele respondeu: “Se está sem dinheiro você pode ficar na minha casa enquanto estiver na India. Eu passo o dia aqui mas minha mulher está em casa e você pode ficar lá com ela.

Respondi: “Só vou se ela me ensinar a cozinhar pratos indianos!”

E então para minha surpresa ele respondeu: “Então porque você não vai jantar conosco hoje. Você é muito simpática e tenho certeza que minha mulher irá gostar de você. Me fala o que quer aprender e eu peço para ela deixar as coisas preparadas e quando você chegar vocês duas finalizam juntas e ela te ensina como fazer.”

Fiquei meio sem saber o que falar, olhei para o Lijo e ele fez um sinal positivo, de que não teria problema, então aceitei! 7h30 lá estava eu, na casa do mais novo amigo que tinha feito em minha jornada, Raja, um Índiano muçulmano, casado e pai de dois filhos e dono da loja que rapou o meu dinheiro. Não sabia direito como agir, mas o gelo foi quebrado em 2 segundos. Levei flores para a mulher do Raja (que não consigo pronunciar o nome nem por decreto) e ela me deu um belo abraço! Eles são de Kashimir, uma cidade no extremo norte da Índia, com vista para o Himalaya, e vieram para o sul por causa dos negócios. A Sra. Raja não gosta de morar aqui pois é muito calor, disse que Kashimir é como a Suíça e pelas fotos que eu vi, parece que tem uma semelhança mesmo.

Cheguei e estava tudo preparado para começarmos a cozinhar. Ela fez um prato típico da sua região: Chicken Kurma! Um frango de panela com gengibre, alho, chili, coentro e iogurte. Eu já não comia frango a mais de 3 meses mas não tive como dizer não! Estava delicioso e eu aprendi a fazer direitinho! Ela me ensinou também a fazer fish mollee, que é um prato típico de Kerala e é muito parecido com o nosso cação com leite de coco, mas tem uns segredinhos que parecem tornar o prato ainda mais delicioso que o nosso! Aprendi também a fazer o pita, o pão Índiano que eles comem com tudo e muitas vezes substitui o arroz que também é muito presente na dieta indiana.

Bom, depois de 2 horas cozinhando, nos sentamos para comer. Sr e Sra Raja, Fahad Raja, o filho mais novo do casal (o mais velho vive em outra cidade pois faz faculdade) e eu, me sentindo completamente em casa, na casa de um muçulmano indiano na Índia! Curiosamente não tem mesa de jantar. São sofás no chão onde todos se acomodam juntos, bem divertido... A dificuldade chegou. Como comer???

 Indiano não usa talher, é tudo com a mão e eu, como boa brasileira, não pego comida com a mão, só com talher, mas não tive coragem de dizer pois eles estavam sendo tão solícitos com alguém que nunca tinham visto na vida que decidi perguntar como deveria comer e segui as ordens (e o Fido Raja, o patriarca da família, me pegou bem na hora que eu estava perguntando: "É assim? Com a mão???). Deu tudo certo, a comida estava maravilhosa, a companhia incrível e a diversão garantida! Conheci um pouco mais sobre a Índia e seus costumes e tudo corria bem até que a Sra Raja me perguntou: Quantos anos você tem? 35. E não é casada? Por que não? E eu não sabia se dizia a verdade ou não... Mas como decidi no curso de Vipassana que não vou lutar contra o que eu sinto pois a verdade explode cada vez que eu minto, eu decidi falar a verdade! Fui casada mas me separei. Separou????? Por que? Porque não estava dando mais certo, eu não era mais feliz! Falei já esperando ser expulsa da casa, mas essa era a mais pura verdade... Então ela olhou bem nos meus olhos e disse em um inglês mais ou menos: “Não sei o que aconteceu, mas você é uma moça boa, eu posso ver, então se marido não era bom, você fez bem de separar e não ter filhos pois no final são eles que sofrem quando os pais não são felizes. Vou rezar, inch Alla, para você arrumar um marido bom agora!”

Essa foi a minha vez de dar um abraço nela. Fiquei feliz por não ser expulsa e por ela apesar de ter uma religião que não aceita a separação e que vive de casamentos arranjados poder me “perdoar” por ter me separado e ainda me desejar coisas boas! Fui embora feliz por ter entrado naquela loja, conhecido o Raja e ter sido convidada para essa noite tão especial na companhia da família dele. Como a vida é inesperadamente boa! No final a Sra Raja disse que gostou muito de mim e se eu quiser vamos juntas para Kashimir, visitar a família dela, quando eu estiver na parte norte da India.  Como o plano é não ter os planos completamente traçados, quem sabe não acho um tempo de encaixar Kashimir na viagem! Não seria uma má ideia!

Já Fahad Raja, fanático por futebol, me prometeu uma visita no ano que vem, no país da copa! Prometi pra mãe dele que cuidarei muito bem dele se ele for, do jeito que eles cuidaram de mim...
Agora vou para Kumarakom, cidade da ayurveda, uma técnica de massagem com poderes medicinais e depois Marari, uma praia bonita por aqui! Vamos ver o que a vida me reserva! J


Os 10 dias mais difíceis da minha vida!


Saí da Australia e fui, rumo a India! Uma viagem diurna o que eu passei a gostar pois quando chego estou tão cansada que só quero dormir e isso ajuda a ajustar o fuso, que já teve que ser ajustado umas 10 vezes... Coitado do meu corpo!

Cheguei em Mumbai no começo da noite e fui direto para o hotel descansar pois no dia seguinte tinha que sair cedo para viajar uns 200km até o centro de meditação onde começaria o meu curso! Confesso que minha primeira impressão da India foi dentro do que eu esperava. A maioria das pessoas me disse que o impacto é enorme, que o choque cultural é tremendo... Bom, avaliando, todos que me disseram isso ou são europeus ou americanos e então eu entendi... Sinceramente não foi nada pior do que sair do Aeroporto de Guarulhos e ir para casa, a diferença é que “a casa” nunca chega pois a Índia nada mais é que uma favela de 1 bilhão e 200 mil habitantes, com um território 3 vezes menor que o Brasil e uma população 6 vezes maior, ou seja, não comporta. A grande diferença geográfica para mim foi somente nunca sair da favela, diferente do Brasil onde nas grandes cidades, temos favelas horrorosas mas bairros legais coexistindo harmoniosamente. Aqui não, os bairros legais nunca chegam e os hotéis legais são também no meio da favela interminável.

Por outro lado o choque cultural foi realmente tremendo, pois mulher aqui não tem vez! Mumbai é a capital financeira da India e teoricamente a mais “moderna” das cidades, mas para eles é realmente muito estranho ver uma mulher sozinha por ai! Recebi um milhão de recomendações para nunca sair sozinha, nunca usar uma regada pois mostrar o ombro é a maior ofensa possível e não ligar para os olhares completamente indiscretos dos homens. Sempre achei que sabia lidar muito bem com olhares masculinos indevidos, mas aqui confesso que fico bastante incomodada e não sei direito como lidar pois eles são MUITO indiscretos. Eu achava que se eu não abrisse a boca eles poderiam me achar indiana, mas sou branca leite no conceito deles e não passo por indiana nem por um segundo...

Bom, saí de Mumbai logo cedo e lá fui eu para os 10 dias mais difíceis (e recompensadores) da minha vida. O transito é realmente um caos e eles buzinam a cada 2 segundos, assim, coloquei uma musica no iphone para poder me distrair pois estava ficando irritada de ouvir tanta busina. Escolhi Titãs para matar um pouco a saudade de casa e quando vi estava tocando Cegos do Castelo... “Eu não quero mais mentir, usar espinhos que só causam dor, eu não enxergo mais o inferno que me atraiu, dos cegos do castelo me despeço e vou... A pé até encontrar, um caminho um lugar pro que eu souuuu!” Nunca tinha me ligado na letra dessa música e ela pareceu fazer tanto sentido pra mim! Bom, os próximos dias vieram e as músicas do Titãs ficaram na minha cabeça por 10 dias pois nunca mais ouvi nenhuma música!

Tinha me inscrito para um Curso de Meditação Vipassana para Executivos. A inscrição tinha que ser feita via fax pois para os não executivos as inscrições no site já tinham terminado, e o curso agora só estava aberto para executivos. Aplicar meditação nos negócios definitivamente não era o meu principal objetivo com o curso, mas esse era o centro de Vipassana mais antigo da India (mais de 150 anos) e a data que eu queria só tinha neste centro, assim, achei uma boa unir o útil ao agradável. Por outro lado, isso me fez acreditar que eu só iria encontrar globais discutindo suas relações com seus investidores e clientes e como lidar melhor com elas... Ledo engano!

Cheguei! Um lugar bem bonito, no meio de um vilarejo chamado Igatpuri e levei o maior choque. CENTENAS de Indianos, propriamente dispostos em Fila Indiana aguardando sua vez de fazer o “check in”. Ao total éramos 350 mulheres e 450 homens, 800 pessoas aguardando seus dias de silêncio! Depois descobri que na ala feminina, éramos somente 13 globais e 337 indianas!

Fiz o meu check-in e fui tentar achar o meu quarto... Era literalmente no final da ribanceira! E o pezinho continua aqui, doendo diariamente! Voltei para a “recepção” e disse: “Posso trocar de quarto? Estou com o pé machucado e não acho que consigo subir e descer aquela ribanceira várias vezes por dia!” Então a “recepcionista” me disse: Você consegue usar banheiro indiano? A resposta foi não, mesmo sem saber direito o que isso significava, pois se fosse bom ela não ia perguntar se eu conseguia usar! A segunda frase foi: “Ok, aguarde uns 30 minutos pois tem uma pessoa querendo mudar de quarto e se ela quiser mudar mesmo eu troco ela com você.” Respondi ok, mas fiquei pensando: “Por que essa outra pessoa queria mudar de quarto?” Então perguntei e a resposta foi que ela achava que tinha uma “mancha negra” no quarto e queria mudar, então eu respondi: “Pensei melhor e acho que vou ficar com o meu quarto mesmo! Obrigada!” Mancha negra logo na chegada??? Achei melhor evitar!

Cheguei no meu quarto. A vista era linda!!! Pois Igatpuri ficava atrás de uma enorme montanha e os meus aposentos tinham vista para a tal montanha, porém quando abri a porta levei o segundo choque!! CADÊ O CHUVEIRO E CADÊ MINHA CAMA???? 





Bom, a cama era um colchão de palha de 3 centímetros sobre uma placa de cimento e o chuveiro era uma torneira que com prazer nos provia de água quente todos os dias das 6h30am as 7h45am para nosso delicioso banho matinal de canequinha! Baldes abundantemente disponíveis no toalete para que você ficasse a vontade em enchê-los durante esta 1 hora e 15 minutos e pudesse se deleitar com sua canequinha também por conta da casa!

A ideia é vivermos por 10 dias como monges, sobrevivendo pela caridade alheia, visto que não se paga absolutamente um centavo pelo curso. Outra coisa é que quando não se paga não se reclama, assim, não tem nada de escolher onde dormir nem o que comer. É o que tem e pronto. E não pagar, em minha opinião, também dá muito mais credibilidade para o curso, pois afinal quando há fins comerciais sempre fica a dúvida se o negócio é bom mesmo ou se estão tentando te convencer de algo para ganhar dinheiro.

Tudo isso tava gerando um belo desconforto interno, mas continuei firme! Sabia que não seria fácil e sabia que era isso que eu queria fazer e desistir não existe no meu vocabulário, então aí vamos nós! A agenda era a seguinte:

4h00am                          – Acordar
4h30am as 6h30am          – Primeira sessão de meditação
6h30am as 8h00am          – Café da manhã e banho
8h00am as 11h00am         – Segunda sessão de meditação
11h00am as 11h45am       – Almoço
11h45am as 1h00pm         – Descanso
1h00pm as 5h00pm          – Terceira sessão de meditação
5h00pm as 6h00pm          – Chá da tarde
6h00pm as 7h30pm          – Quarta sessão de meditação
7h30pm as 8h30pm         – Discurso do dia (aqui o professor fazia um discurso de como tinha sido o dia e o que deveríamos fazer no dia seguinte. Era na sua língua natal, o que era ótimo para garantir entendimento. Para mim era o ponto alto do dia, gostava muito do discurso)
8h30pm as 9h00pm         – Quinta e última sessão de meditação
9h00pm                          – Cama

Eram 11h de meditação diárias com paradas somente para comer e tomar banho! Me senti realmente em uma prisão! Na entrada confiscaram o passaporte, telefone e carteira para não termos acesso a nada do mundo exterior. Nossa ala era separada da ala masculina e não podíamos ter nenhum tipo de contato com eles, o que eu achava ótimo pois odiava a forma como era encarada. A comida era vegetariana no bandejão, sem prato, na bandeja mesmo e só tínhamos colher, para evitar briga e assassinato no presídio. Tínhamos feito voto de silêncio, o que para mim foi fácil. O difícil foi não fazer contato visual! Não podíamos nem olhar uma para as outras e isso pegava para mim. Isolamento total, olhando só para dentro de você. Infringi minha primeira (e última) regra! Sem falar ok, sem olhar e sorrir eu não conseguia! Faz parte de mim olhar e sorrir para as pessoas que eu simpatizo, assim, escolhi minhas preferidas e não estava nem ai! Quando elas cruzavam meu caminho eu encarava até elas não resistirem e me olharem e então eu sorria! Depois de um tempo passou a ser natural e elas as vezes até sorriam pra mim antes que eu sorrisse para elas! Ok, assim posso viver! Sem falar, sim! Sem sorrir, não!

Primeiro dia foi ok... Outra música do Titãs, Não vou lutar, não saía da minha cabeça... “Não vou lutar contra o que eu sinto... Vou me entregar como um soldado cansado e faminto! Não vou lutar contra o que eu sinto, pois a verdade explode cada vez que eu minto! Não posso mais viver em conflito! Não vou negar o que é tão claro, vou me entregar em tudo que eu faço em tudo que eu falo! Não vou negar o que é tão claro porque a verdade explode mesmo quando eu me calo, não posso mais viver...“
 Segundo dia comecei a arquitetar o meu plano de fuga! Pensei: Chega, isso aqui não é pra mim e acho que chegou a hora de desistir (sem tentar) pela primeira vez na minha vida!!!

Estava tentando encarar tudo numa boa! Não ter cama nem chuveiro, subir e descer a ribanceira 5 vezes por dia e dividir o quarto com a minha amiga lagartixa (que parecia mais um lagarto de tão gorda e grande), mas já tínhamos estabelecido nossos limites. Ela morava no cano na descarga, assim, para que não nos encontrássemos sem necessidade em situações constrangedoras, toda vez que eu ia entrar no banheiro, ascendia a luz primeiro e chacoalhava a porta, assim, ela saída da janela que era onde ela gostava de ficar e ia para a sua cama dentro da folga entre a parede e o cano! Pronto, regras claras e convívio civilizado... porém uma coisa me fez chegar ao limite: A barata!!!!!!!!

Tudo aconteceu no segundo dia, era hora do almoço, peguei a colher para colocar arroz no meu bandejão e vejo a barata subindo o panelão do lado de fora rumo a um rasante dentro da mesma! Achei que estava louca pois tenho que confessar que a barata Indiana é bem mais simpática que a Brasileira. São aquelas baratinhas pequenas, com asa, que parece mais um daqueles insetos estranhos voadores do que uma barata em sua essência, então coloquei na minha cabeça que aquilo que eu vi não era uma barata!

Porém eu estava realmente para ser testada em uma das teorias do curso: Aceite a realidade como ela é e não como você gostaria que fosse! Nem tudo pode ser mudado (apesar de eu sempre achar que eu posso mudar tudo)! Fui para a mesa e escolhi sentar em uma mesa que ficava encostada na parede pois assim não precisava sentar com ninguém na minha frente já que não podia falar mesmo! E então ela veio... tranquilamente, subiu na minha bandeja e ficou lá, no cantinho, só me observando! Por alguns segundos ainda achei que pudesse ser o inseto voador desconhecido e não uma barata de nascença, mas era!!!! E eu identifiquei através das anteninhas inconfundíveis que ficavam mexendo de um lado para o outro só ativando os sensores!

Foi o limite, levantei, deixei barata e bandeja para trás e decidi que não podia mais ficar lá! A meditação da tarde foi praticamente 4 horas de análise sobre qual a melhor atitude a tomar: Pular o muro e sair correndo até o vilarejo e então pedir ajuda na polícia (onde provavelmente teria ainda mais baratas), invadir o escritório e pegar meus documentos ameaçando todas com meu alicate de unha ou aguentar tudo e ficar até o final!

Algumas coisas nunca mudam e eu nunca me perdoaria por não ter arriscado a ficar e saber o que ia dar. Cheguei na índia, queria tanto vir pra cá e lembro do meu amigo Tom, que morou aqui quase um ano, me dizendo do choque higiênico que eu teria pois aqui, até os hotéis 5 estrelas têm barata, escorpião e lagartixa. Queria demais fazer esse curso pois Vipassana é uma técnica de meditação que tem 2.600 anos e foi a técnica utilizada pelo Buda em seu processo de iluminação que aconteceu quando ele tinha 35 anos. A partir de então ele saiu pela Ásia ensinando Vipassana até os 80 anos, quando morreu. Trata-se de uma técnica completamente independente de religião, raça, cor, credo. Eles dizem que o mal é universal então o remédio também tem que ser. Consiste basicamente em treinar a sua mente a não reagir de forma negativa às vicissitudes da vida e consequentemente ser feliz com as coisas do jeito que são e estão, sem necessariamente esperar que algo aconteça para ser feliz. Eles até usam um exemplo que não adianta rezar, oferecer um prato de oferenda aos Deuses e dar 18 voltas na arvore e esperar o alinhamento dos astros... Se você não se mexer nada acontece.

A técnica é prática pura e para mim, cética e acreditando que nós somos responsáveis pela nossa alegria ou infelicidade, teve um sabor super agradável pois é tudo explicado como reações bioquímicas do corpo, ou seja, o que acontece com o seu corpo quando você está ávido por algo, que pode ser desde comer um chocolate até estar junto do amor da sua vida ou quando você tem repulsa por algo que pode ser desde um ver um inseto até o desconforto de interagir com uma pessoa que te tira do sério. Depois de entendido isso dia após dia é explicado (através de um exercício evolutivo) como lidar com essas reações bioquímicas, sem sair do eixo e encarando tudo de forma impermanente, pois seja bom ou ruim, uma hora as coisas passam e temos que lidar com o efeito que isso nos causa!

Bom, pensei muito, não meditei nem por um segundo naquela tarde e conclui que eu devia ficar! Já tinha passado 20% do curso, eu já estava lá, ir embora ia dar um trabalho danado e eu não podia deixar uma barata me vencer, porém medidas foram tomadas! Nunca mais entrei no refeitório descalço, sempre de meia! Nunca mais sentei de frente para a parede pois onde afinal se concentram as baratas? Nunca mais comi com as pernas para baixo, posição de índio, com pé doendo ou não, foi a posição utilizada em todas as refeições a partir daí. Malas sempre fechadas 100% do tempo também foram providenciadas e depois de alguns dias eu já tinha desencanado! Já sabia quantos baldes de água precisava para tomar  banho com ou sem lavar o cabelo, meu quadril já não doía mais no terceiro dia de cama de cimento e dormia tranquilamente de tão cansada, evitava os horários de pico do refeitório para não pegar fila e ficar lá menos tempo possível e nunca mais fiquei olhando pra ver se eu achava uma barata pois afinal não ia poder fazer nada em relação a ela, nem matá-la pois afinal estou na India e aqui não se mata nenhum inseto, por isso que tem tantos!

Parei de pensar nos desconfortos e segui com meu curso. Sinceramente foi a melhor coisa que fiz até hoje. Queria poder expressar minha satisfação em aprender algo que parece tão valioso. Eu já conhecia alguma coisa de meditação, métodos totalmente diferentes e já gostava bastante, mas esse tem uma parte prática que nunca tinha visto e realmente parece ser uma ciência capaz de ajudar qualquer ser humano que queira viver a sua verdade, encarar seus sentimentos e lidar com eles! Ainda estou engatinhando no tema, mas acho que dei o primeiro grande passo rumo a uma vida melhor. Muitas fichas caíram e me conheci um pouco melhor.

Acho que já contei detalhes demais aqui, então para quem se interessar, descobri que existe um Centro de Vipassana no Brasil, com o curso exatamente igual ao que eu fiz, porém com a grande vantagem de ser sem baratas! Para quem se interessar vou deixar o site aqui! Pelo que vi a fila de espera é grande, mas sinceramente não é a toa! Se valer uma recomendação a minha já está dada! Adorei o curso!

http://courses.dhamma.org/en/schedules/schsanti

Para completar, no último dia podemos falar depois do meio dia! Bom, fui dormir a 1am pois tinha 337 mulheres para conhecer! J Na verdade não cheguei nem perto disso, mas conheci pessoas muito legais de muitos lugares diferentes (Islândia, Japão, Eslovênia, Alemanha, EUA, Espanha, Colômbia, Brasil e claro, Índia) com o objetivo de serem pessoas melhores e ajudarem o mundo a ser um lugar melhor para se viver! Espero realmente manter contato com elas e seguir o meu caminho da melhor forma que eu puder e se possível sem baratas!


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A Corrente do Bem!

Escrevi esse post a uns 20 dias mas não consegui publicar por falta de acesso a internet. Agora, lendo de novo, fico feliz de ver o que eu escrevi mesmo antes de ir para o meu curso de meditação e conclui tanta coisa boa... J O próximo post conta tudo da minha saga meditativa!

Esse ano algumas pessoas foram embora, mas muitas pessoas chegaram na minha vida. Tive momentos ótimos, momentos que decidi que nada iria me abalar e realmente nada me abalou e momentos que joguei a toalha e me permitir sofrer a minha dor.

Aprendi realmente que nossa felicidade está dentro de nós, que você pode estar no lugar mais lindo do mundo, mas se estiver triste, aquele lugar não representará nada para você e o contrário também vale. Se estiver feliz, qualquer lugar serve! Claro que é muito bom ter dinheiro no bolso, saúde para dar e vender e o amor da sua vida do seu lado, mas as vezes não dá para ter tudo isso, aliás, as vezes não dá para ter nada disso e ainda assim podemos ser felizes.

Hoje fui tomada por uma onda incrível de felicidade. Olhei para o meu ano e vi tanta coisa que aconteceu. Foi um ano no mínimo inusitado. Teve pé quebrado, trabalho duro, muitas horas de aeroporto, paisagens novas, gente que chegou, gente que partiu, gente que chegou e partiu.
Ouvi e falei eu te amo, ouvi me desculpe, ouvi: “Conhecer você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida” e essa veio de um novo amigo, e não de um novo amor como era de se esperar... mas a que eu mais ouvi e falei foi: “Estou com saudades de você!

Fiquei alegre em descobrir, na prática, que tem muito mais gente boa do que ruim nesse mundo, que as pessoas, em sua grande maioria, são gentis, acolhedoras e simpáticas. Teve gente que cuidou do meu pé (sem cobrar), teve gente que ficou com minhas tralhas pra eu continuar viajando com menos peso, teve gente que me ofereceu lugar para dormir, teve gente que me ofereceu emprego, teve gente que me deu carona, teve gente que me acolheu na festa de natal e depois na festa de ano novo, teve gente que virou minha amiga em 5 minutos e teve gente que não desistiu de mim e se esforçou para manter contato como se eu ainda estivesse no Brasil. Quero guardar para sempre as pessoas que conheci nessa jornada em 2012 apesar de saber que talvez algumas delas eu nunca mais verei por força das circunstâncias, deixarei aqui o nome de todas elas em uma ordem sem ordem e quero dizer que elas agora fazem parte da minha história.

Pra completar vou deixar também algumas fotos dos lugares mais bonitos que conheci pois apesar de saber que a felicidade está dentro de mim, contemplar essas paisagens foi sem dúvida uma forma de felicidade!

Feliz 2013 para todos que estão no meu pensamento agora! Que esse seja um ano de conquistas incríveis e verdade interior. Agora na India, começando um curso de meditação Vipassana onde passarei 10 dias sem poder falar (obviamente sem poder escrever também), então mando notícias quando voltar ao mundo normal, se voltar! :-)

Andre Pessoa – A pessoa que me acompanhou nessa jornada, me encontrando cada vez em um lugar diferente e fazendo tudo ficar ainda mais divertido. Graças a essa viagem ganhei um novo grande amigo!

Danielle Lauber – Diretora da escola de Italiano que eu frequentei e se tornou uma grande amiga!
Guido Cicione – O fisioterapeuta que virou muito mais que fisioterapeuta! Amigo, professor de italiano e minha maior companhia na Itália... Ah e meu fisioterapeuta nas horas vagas!

Neda Papazova – A Búlgara que estudava italiano comigo e virou uma super companheira

Zheng Xu – O Chinês cantor de opera que também estudava italiano comigo e a única forma de nos comunicarmos era em Italiano por mais macarrônico que ainda fosse, pois ele não falava uma palavra em inglês

Patrizia – Da agência de viagens em Florença que me ajudou muito a organizar alguns passos da minha jornada

Dario Gastone – Dono de um restaurante em Florença que virou um grande amigo

Tom Vendeenval – O holandês mais responsável do mundo que virou um amigo muito especial

Mihaela Stipic - A Austriaca que conheci em uma balada (que o Andre estava junto) e nos tornamos super amigar

Kristin Sullivan – Minha melhor amiga do curso de culinária

Dave Orr – Marido da Kristin e meu “orientador” na minha aventura para a India

Ambra Bernardi– Dona do apartamento que aluguei na minha segunda estadia em Firenze que se tornou também uma ótima amiga

Gina Espanã – Que me proporcionou dar muitas risadas em nossos devaneios culinários e se tornou uma amiga que sei que poderei contar sempre

Shung Lau – O meu melhor amigo do curso de culinária (na categoria masculino)

Sana Inoue – Minha japonesa preferida

Takako Toyota – A japonesa mais fofa

Keiko Terayama– Minha primeira japonesa\

Raquel Easton – Que foi um exemplo de humildade e trabalho duro

Chiara Callimaci – A diretora da escola de culinária que também virou minha amiga

Elisabetta Stella– A Chef da escola de culinária que me dava um monte de bronca e me ajudava com absolutamente tudo

Antonio Tubelli – O meu chef preferido, napolitano é claro!

Adriane (Didi) Medeiros – A brasileira que me acolheu de braços abertos na Australia e virou uma amigona!

Cylene França– Que eu nem conheci ainda mas já compartilhou todos os seus amigos comigo

Blanca Veiga– Que se tornou a mais nova antiga amiga que eu tenho

Mauricio Ventura – O amigo que compartilhou o fazer nada na Australia comigo enquanto nossos amigos estavam no trabalho

Cristiano Ferreira – O parmerense paulista da gema

Kirsti Reeves – Namorada do Cristiano e uma fofa de Australiana que adora falar “Beijo”

Andreia – que compartilhou comigo e com Didi o melhor café da manhã do dia 01 de janeiro e ainda salvou minha vida

Vivian Cardoso – que abriu sua casa e me acolheu de coração

Francesca Prina Ricotti – Que esteve comigo em minha aventura japonesa!

Mirella Parry – A dona da casa que eu fiquei em Sydney.

Belinda Robertson – Minha amiga de Melbourne que parece que conheço a 100 anos

Vivian Italiana – A africana, que mora na Italia a 20 anos, que eu conheci na Australia!

32 novas pessoas, que fizeram parte de forma especial na minha vida nos últimos meses e que eu não esquecerei. Todas me ajudaram, me acolheram e me fizeram bem e agora eu mando pra elas todas as boas vibrações e energia positiva através deste post. Nota: Essa energia também vai para os amigos antigos, que se privaram da minha companhia e me acompanharam de longe! 

Que chegue em vocês! Obrigada!

Algumas fotinhos dos últimos 6 meses:

Amsterdam - Holanda

Firenze - Italia

Cochin - India

Kyoto - Japão (Golden Temple - a coisa mais bonita que eu já vi na vida) 

Nosso Hemingway, o melhor bar do mundo - Jesi - Italia

Jesi - Italia (Caminho de casa para o curso de culinária)

Jesi - Italia

Viena - Austria

Nha Trang - Vietnam

Italcook - Jesi - Italia

Deu a louca na aula de açougue - Jesi - Italia

Sydney - Australia - A galera mais acolhedora do mundo
Melbourne - Australia


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Um dia em Saigon...Manhã: Aula de Culinária! Tarde: Hospital! Noite: Melhor restaurante da Cidade!

Li duas frases essa semana que achei que valia a pena compartilhar:

"Action may not always bring happiness, but there is no happiness without action."

"Life is too short to be small."

- Benjamim Disraeli, ex-primeiro ministro britânico

Tinha pensado em escrever somente um post sobre o Vietnam, mas a última sexta-feira foi dia de cachorro, no sentido de valer por aproximadamente uma semana da nossa vida normal, então tive que dedicar um post só para ele, porém ATENÇÃO: É completamente proibido mostrar esse post para minha mãe!!!!! Irmãs, amigos e amigas, por favor nunca mostrem isso para a Dona Helecir pois senão perco a mãe antes mesmo de voltar para o Brasil!!!

Acordei as 6am pois tinha agendado uma aula de culinária vietnamita e o chef iria me buscar as 7h45am para irmos ao mercado comprar os ingredientes para preparar os pratos! 7h30 eu já estava na recepção do hotel! So isso para me fazer madrugar mesmo, mas para minha alegria ate 8h25 ninguém tinha chegado ainda. Ai quando ele chegou queria que eu fosse de moto com ele até o mercado! Comecei a ficar brava pois não era esse o combinado. Hora errada e de moto? Há limites!!! Parecia que o dia não ia ser bom, mas no final conseguimos nos comunicar e ele entendeu que eu não iria de moto com ele e íamos pegar um taxi como o combinado. Parece um pouco demais, mas vocês não podem imaginar o trânsito de Saigon. Ainda não chegue na Índia  onde provavelmente minha opinião mudará, mas até agora é o pior transito que já vi. Vou deixar as imagens falarem por mim, mas vou dizer somente duas coisas para complementar:

1. Minha primeira lição no Vietnam foi: "Quando atravessar a rua não tente desviar das motos e carros, eles desviarão de você! Assim, contrário de tudo que minha mãe me ensinou... Aprendi a atravessar sem olhar. Isso mesmo, sem olhar, pois se olhar não da coragem de continuar!

2. A cada avenida de 3 faixas, uma é para os carros e 2 para as motos (como da pra ver ne?). Nunca mais reclamarei dos motoboys em São Paulo! E nota, enquanto eu atravessava passou uma moto bem na minha frente, dá pra ver???      




Bom, fomos para o Mercado comprar os ingredientes para a aula. Impossível de descrever! Imaginem uma 25 de março dentro de um prédio com absolutamente tudo junto: Seda, mala, capacete (é um mercado gigantesco considerando o tanto de moto na cidade! Barracas e mais barracas com os mais variados tipos e tamanhos de capacete. Sem contar as máscaras de proteção que a mulherada usa por causa da pele e da poluição! Indescritível!), peixe, fruta, verdura, carne, miudos, etc, etc, etc! Vi frutas e verduras que nunca tinha visto na vida e saí de lá sabendo um pouco mais sobre o país!


Fomos para a escola de culinária e aprendi a fazer alguns pratos realmente deliciosos. O prato mais famoso aqui é uma sopa com noodles de arroz, brodo de carne e pedaços de carne e vegetais que se condimenta na mesa com algumas ervas e chilli. Eles tomam isso em pleno inverno de 32oC!!! A culinária Vietnamita é bastante interessante e rica, cheia de sabores, ingredientes e muita coisa agridoce: Molhos, temperos, preparações! A aula foi ótima e aprendi muita coisa! Esperem para ver!

Fiz minha primeira amiga na cidade! Uma vietnamita de mais ou menos 1,40m, 28 anos, um inglês perfeito e a mais pura simpatia. Ela era a “historiadora” da escola de culinária e me explicou a origem dos pratos e dos utensílios. Trocamos telefones e emails e combinamos de sair juntas quando eu voltar para Ho Chi Minh (mais conhecida como Saigon para nós) na quarta-feira, pois no sábado vim para Nha Trang, um paraíso tropical a uma hora de voo de Saigon.

Bom, saindo da aula de culinária, ofereci uma carona de taxi para o Chef, que era um rapaz raquítico de Há Noi, a capital do Vietnam, que veio para Saigon tentar a vida e até então estava se dando bem pois ele trabalha a noite no maior hotel da Cidade (Hotel Continental). Ele precisava ir até meu hotel pois fiz ele deixar a moto lá e ir de taxi comigo até a escola. Eu precisava comprar uma mala pois a minha quebrou na vinda para cá e ele me indicou onde comprar uma nova e para retribuir o favor, me ofereceu uma carona na sua moto! A princípio pensei que não iria nem morta, estava morrendo de medo, mas pensei: “Quando vou poder andar de carona em uma moto em Saigon novamente? Acho que talvez nunca mais!!” Então lá fui eu, com meu novo amiguinho raquítico (que se passasse um ônibus muito perto derrubava ele pelo vento), no meio do caos da cidade... e entre buzinas, xingamentos e desviadas magistrais chegamos ao Shopping onde ele me deixou e foi pro seu segundo trabalho! Incrível como o Caos funciona!

Bom, dei uma rodada pela cidade, comprei minha mala e deixei no hotel, então fui para uma loja do lado do correio comprar um colar de pérolas MARAVILHOSO que eu tinha visto no dia anterior e depois de pensar muito decidi comprar pois era barato demais. Aliás, isso é uma das coisas maravilhosas do Vietnam, é incrível como se gasta pouco com absolutamente tudo. Hotel, comida, compras, é tudo super mega barato, incluindo as pérolas! Saindo de lá dei mais uma passeada, mas não estava mais conseguindo caminhar... Agora, o motivo era realmente inesperado! Minha perna boa, estava péssima!!! Acho que ela cansou de aguentar a bronca sozinha e deu um basta! Estava sentindo uma dorzinha no tornozelo (só para fazer ciúmes para a outra perna) a uns 3 dias, e estava difícil de caminhar com tênis pois pegava bem em cima da dor, porém desde que subi 30oC na temperatura, não usei mais o tênis porém a perna estava enorme, super, super inchada desde que cheguei depois de quase 24 horas de processo de viagem entre voos e esperas.

Imagina uma manca das duas pernas???? Ninguém merece! Então resolvi tentar achar uma meia de compressão (aquelas de vó sabe?), pois algumas coisas nunca mudam e eu perdi um pé da minha durante a viagem, só estava usando na perna que historicamente já sabemos que não estava 100%. Andei, andei, andei e nada! Impossível de explicar o que eu queria e de achar sozinha! Então me rendi a central de informação da loja de departamentos que eu estava e expliquei para a moça o meu problema. Quando ela viu minha perna, ela pediu para alguém ficar no lugar dela, me pegou pelo braço e começou a andar! Fiquei meio tensa e disse: Onde vamos? E ela respondeu: “Para o hospital!” Desacreditei! A moça parou tudo e foi me levar no hospital! Não sabia o que fazer, pois não achei que era caso para isso, então tentei convencê-la que não precisava, que era só ela me dar o endereço que eu ia depois, que eu só queria comprar a meia e então ela respondeu: “Faltam 10 dias para o Natal e eu não posso deixar você sem ajuda em um país que não é o seu!” Depois dessa, me rendi e fui para o hospital... Não custava dar uma olhada né?

Parece que foi a salvação! Chegando lá já me surpreendi positivamente. Um hospital super equipado e moderno, para atendimento de locais e estrangeiros. Todos falavam inglês, alias isso foi algo que me surpreendeu aqui pois apesar de tudo que eles passaram com a guerra, a maioria das pessoas fala inglês e praticamente todos os lugares apresentam preços em dólares. Bom, fui atendida pelo chefe da emergência que estava no saguão quando eu cheguei. Expliquei para ele que estava viajando que tinha feito uma cirurgia, bla, bla, bla... E então ele me disse: “Você está viajando o mundo por quê? O Brasil não é grande suficiente para você?” Então eu respondi: “Talvez não, pelo menos não neste momento!” Ele era israelense e vive na Asia a mais de 20 anos, me disse que conhece todo o lixo do mundo e não se adapta mais em um país desenvolvido, com regras muito restritas. Contei que conhecia Israel e e ele adorou saber e depois começamos a conversar sobre a GE, as maquinas que ele tinha lá, o sistema de armazenamento de imagens que ele quer trocar... tudo isso enquanto ele examinava minha perna... Parecia que estava tudo tranquilo, quando então ele me disse: “Filha, você está com todos os sintomas de trombose e se tiver alguma veia bloqueada aqui, você não vai viajar para lugar nenhum até que tenhamos certeza que você está bem.”

Dois segundos de silêncio que se tornaram infinitos... porém pude observar como em situações de stress minha mente bloqueia o pânico! O que pensei foi: Bom, se não posso viajar, vou ficar aqui até poder. Vou perder algum dinheiro com passagens e reservas, mas paciência. Sei na pele, por causa do meu pai, o quanto isso é sério e não posso arriscar. Morei algum tempo na Itália por vontade e agora vou morar algum tempo no Vietnam por necessidade! Ok!

Ao mesmo tempo pensei: Trombose? Eu? Como assim? Então ele perguntou do histórico familiar e disse que isso não tem idade e que pode acontecer com qualquer um, especialmente com um histórico familiar como o meu. Lá fui eu fazer ultrassom, Doppler, exame de sangue e tudo mais que tinha direito. Para a minha surpresa e alegria o processo todo levou somente algumas horas e o resultado foi melhor que o proferido! Trombose: NÃO! Mega problema circulatório: SIM! Devido às circunstâncias, onde já me imaginei com minha própria moto, mascara e capacete e uns 3 filhinhos mestiços pois não poderia mais viajar de avião e ia ter que fazer minha vida por aqui mesmo, achei que o resultado foi ótimo.

Finalmente achei a meia, eles tinham no hospital, porém custou mais caro que o meu colar de pérolas!  Agora estou de meia de alta compressão em um calor de 32oC e tomando remédio para afinar o sangue e poder seguir viagem! Maravilha!!!


Bom, tinha uma reserva em um dos melhores restaurantes da cidade que ficava na esquina do meu hotel. Pensei: Acho que é hora de comemorar! Então lá fui eu para o Ly Club, um lugar lindo, com um terraço enorme e um espelho d’água divino. O staff super gentil e atencioso e a comida soberba! Comi uma salada de broto de manga com chilli, Charlotte, ervas e bacalhau selado em um molho agridoce incrível. E o melhor de tudo! Aprendi a fazer essa salada na aula de culinária da manhã! Sem dúvida o meu prato preferido até agora! Depois comi um caranguejo com molho de tamarindo e cebola empanada com espinafre com molho de soja e alho! Não tenho explicação, foi minha melhor refeição até agora na viagem! A comida era maravilhosa, o lugar lindo e a alegria de poder continuar viajando era incontrolável!

Foi minha despedida do mundo carnívoro (pelo menos por enquanto) pois o meu Fisioterapista, Italiano, Vegano já tinha me detto a muito tempo que o meu problema do pé que nunca sarava era circulatório e para melhorar tenho que parar de comer carne entre outras coisas. Durante esse último mês que passei na Italia, comi carne somente 2 vezes e realmente me senti muito melhor. Coincidência ou não, as circunstâncias atuais me fazem querer pelo menos tentar! Ir para a Italia para se tornar vegana só acontece comigo mesmo né?

No final o que importa é que o saldo saiu positivo. A conta do hospital + a meia de ouro ficaram um pouquinho mais baratos que o colar de pérolas + o jantar! Resultado: a diversão prevaleceu!!!!

Fica aqui a dica do Ly Club que realmente merece uma visita estando em Saigon! Aliás, Saigon merece uma visita!!! 

Agora vou nessa pois demorei tanto para publicar que já mudei de cidade (sem pé inchado)! Estou em Nha Trang, uma praia maravilhosa... me esperando! Boa noite... ou Bom dia!

Ly Club
143 Nam Ky Khoi Nghia. District 3
Ho Chi Minh City (Saigon), Vietnam
+84.8.3930.5588