segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Um dia em Saigon...Manhã: Aula de Culinária! Tarde: Hospital! Noite: Melhor restaurante da Cidade!

Li duas frases essa semana que achei que valia a pena compartilhar:

"Action may not always bring happiness, but there is no happiness without action."

"Life is too short to be small."

- Benjamim Disraeli, ex-primeiro ministro britânico

Tinha pensado em escrever somente um post sobre o Vietnam, mas a última sexta-feira foi dia de cachorro, no sentido de valer por aproximadamente uma semana da nossa vida normal, então tive que dedicar um post só para ele, porém ATENÇÃO: É completamente proibido mostrar esse post para minha mãe!!!!! Irmãs, amigos e amigas, por favor nunca mostrem isso para a Dona Helecir pois senão perco a mãe antes mesmo de voltar para o Brasil!!!

Acordei as 6am pois tinha agendado uma aula de culinária vietnamita e o chef iria me buscar as 7h45am para irmos ao mercado comprar os ingredientes para preparar os pratos! 7h30 eu já estava na recepção do hotel! So isso para me fazer madrugar mesmo, mas para minha alegria ate 8h25 ninguém tinha chegado ainda. Ai quando ele chegou queria que eu fosse de moto com ele até o mercado! Comecei a ficar brava pois não era esse o combinado. Hora errada e de moto? Há limites!!! Parecia que o dia não ia ser bom, mas no final conseguimos nos comunicar e ele entendeu que eu não iria de moto com ele e íamos pegar um taxi como o combinado. Parece um pouco demais, mas vocês não podem imaginar o trânsito de Saigon. Ainda não chegue na Índia  onde provavelmente minha opinião mudará, mas até agora é o pior transito que já vi. Vou deixar as imagens falarem por mim, mas vou dizer somente duas coisas para complementar:

1. Minha primeira lição no Vietnam foi: "Quando atravessar a rua não tente desviar das motos e carros, eles desviarão de você! Assim, contrário de tudo que minha mãe me ensinou... Aprendi a atravessar sem olhar. Isso mesmo, sem olhar, pois se olhar não da coragem de continuar!

2. A cada avenida de 3 faixas, uma é para os carros e 2 para as motos (como da pra ver ne?). Nunca mais reclamarei dos motoboys em São Paulo! E nota, enquanto eu atravessava passou uma moto bem na minha frente, dá pra ver???      




Bom, fomos para o Mercado comprar os ingredientes para a aula. Impossível de descrever! Imaginem uma 25 de março dentro de um prédio com absolutamente tudo junto: Seda, mala, capacete (é um mercado gigantesco considerando o tanto de moto na cidade! Barracas e mais barracas com os mais variados tipos e tamanhos de capacete. Sem contar as máscaras de proteção que a mulherada usa por causa da pele e da poluição! Indescritível!), peixe, fruta, verdura, carne, miudos, etc, etc, etc! Vi frutas e verduras que nunca tinha visto na vida e saí de lá sabendo um pouco mais sobre o país!


Fomos para a escola de culinária e aprendi a fazer alguns pratos realmente deliciosos. O prato mais famoso aqui é uma sopa com noodles de arroz, brodo de carne e pedaços de carne e vegetais que se condimenta na mesa com algumas ervas e chilli. Eles tomam isso em pleno inverno de 32oC!!! A culinária Vietnamita é bastante interessante e rica, cheia de sabores, ingredientes e muita coisa agridoce: Molhos, temperos, preparações! A aula foi ótima e aprendi muita coisa! Esperem para ver!

Fiz minha primeira amiga na cidade! Uma vietnamita de mais ou menos 1,40m, 28 anos, um inglês perfeito e a mais pura simpatia. Ela era a “historiadora” da escola de culinária e me explicou a origem dos pratos e dos utensílios. Trocamos telefones e emails e combinamos de sair juntas quando eu voltar para Ho Chi Minh (mais conhecida como Saigon para nós) na quarta-feira, pois no sábado vim para Nha Trang, um paraíso tropical a uma hora de voo de Saigon.

Bom, saindo da aula de culinária, ofereci uma carona de taxi para o Chef, que era um rapaz raquítico de Há Noi, a capital do Vietnam, que veio para Saigon tentar a vida e até então estava se dando bem pois ele trabalha a noite no maior hotel da Cidade (Hotel Continental). Ele precisava ir até meu hotel pois fiz ele deixar a moto lá e ir de taxi comigo até a escola. Eu precisava comprar uma mala pois a minha quebrou na vinda para cá e ele me indicou onde comprar uma nova e para retribuir o favor, me ofereceu uma carona na sua moto! A princípio pensei que não iria nem morta, estava morrendo de medo, mas pensei: “Quando vou poder andar de carona em uma moto em Saigon novamente? Acho que talvez nunca mais!!” Então lá fui eu, com meu novo amiguinho raquítico (que se passasse um ônibus muito perto derrubava ele pelo vento), no meio do caos da cidade... e entre buzinas, xingamentos e desviadas magistrais chegamos ao Shopping onde ele me deixou e foi pro seu segundo trabalho! Incrível como o Caos funciona!

Bom, dei uma rodada pela cidade, comprei minha mala e deixei no hotel, então fui para uma loja do lado do correio comprar um colar de pérolas MARAVILHOSO que eu tinha visto no dia anterior e depois de pensar muito decidi comprar pois era barato demais. Aliás, isso é uma das coisas maravilhosas do Vietnam, é incrível como se gasta pouco com absolutamente tudo. Hotel, comida, compras, é tudo super mega barato, incluindo as pérolas! Saindo de lá dei mais uma passeada, mas não estava mais conseguindo caminhar... Agora, o motivo era realmente inesperado! Minha perna boa, estava péssima!!! Acho que ela cansou de aguentar a bronca sozinha e deu um basta! Estava sentindo uma dorzinha no tornozelo (só para fazer ciúmes para a outra perna) a uns 3 dias, e estava difícil de caminhar com tênis pois pegava bem em cima da dor, porém desde que subi 30oC na temperatura, não usei mais o tênis porém a perna estava enorme, super, super inchada desde que cheguei depois de quase 24 horas de processo de viagem entre voos e esperas.

Imagina uma manca das duas pernas???? Ninguém merece! Então resolvi tentar achar uma meia de compressão (aquelas de vó sabe?), pois algumas coisas nunca mudam e eu perdi um pé da minha durante a viagem, só estava usando na perna que historicamente já sabemos que não estava 100%. Andei, andei, andei e nada! Impossível de explicar o que eu queria e de achar sozinha! Então me rendi a central de informação da loja de departamentos que eu estava e expliquei para a moça o meu problema. Quando ela viu minha perna, ela pediu para alguém ficar no lugar dela, me pegou pelo braço e começou a andar! Fiquei meio tensa e disse: Onde vamos? E ela respondeu: “Para o hospital!” Desacreditei! A moça parou tudo e foi me levar no hospital! Não sabia o que fazer, pois não achei que era caso para isso, então tentei convencê-la que não precisava, que era só ela me dar o endereço que eu ia depois, que eu só queria comprar a meia e então ela respondeu: “Faltam 10 dias para o Natal e eu não posso deixar você sem ajuda em um país que não é o seu!” Depois dessa, me rendi e fui para o hospital... Não custava dar uma olhada né?

Parece que foi a salvação! Chegando lá já me surpreendi positivamente. Um hospital super equipado e moderno, para atendimento de locais e estrangeiros. Todos falavam inglês, alias isso foi algo que me surpreendeu aqui pois apesar de tudo que eles passaram com a guerra, a maioria das pessoas fala inglês e praticamente todos os lugares apresentam preços em dólares. Bom, fui atendida pelo chefe da emergência que estava no saguão quando eu cheguei. Expliquei para ele que estava viajando que tinha feito uma cirurgia, bla, bla, bla... E então ele me disse: “Você está viajando o mundo por quê? O Brasil não é grande suficiente para você?” Então eu respondi: “Talvez não, pelo menos não neste momento!” Ele era israelense e vive na Asia a mais de 20 anos, me disse que conhece todo o lixo do mundo e não se adapta mais em um país desenvolvido, com regras muito restritas. Contei que conhecia Israel e e ele adorou saber e depois começamos a conversar sobre a GE, as maquinas que ele tinha lá, o sistema de armazenamento de imagens que ele quer trocar... tudo isso enquanto ele examinava minha perna... Parecia que estava tudo tranquilo, quando então ele me disse: “Filha, você está com todos os sintomas de trombose e se tiver alguma veia bloqueada aqui, você não vai viajar para lugar nenhum até que tenhamos certeza que você está bem.”

Dois segundos de silêncio que se tornaram infinitos... porém pude observar como em situações de stress minha mente bloqueia o pânico! O que pensei foi: Bom, se não posso viajar, vou ficar aqui até poder. Vou perder algum dinheiro com passagens e reservas, mas paciência. Sei na pele, por causa do meu pai, o quanto isso é sério e não posso arriscar. Morei algum tempo na Itália por vontade e agora vou morar algum tempo no Vietnam por necessidade! Ok!

Ao mesmo tempo pensei: Trombose? Eu? Como assim? Então ele perguntou do histórico familiar e disse que isso não tem idade e que pode acontecer com qualquer um, especialmente com um histórico familiar como o meu. Lá fui eu fazer ultrassom, Doppler, exame de sangue e tudo mais que tinha direito. Para a minha surpresa e alegria o processo todo levou somente algumas horas e o resultado foi melhor que o proferido! Trombose: NÃO! Mega problema circulatório: SIM! Devido às circunstâncias, onde já me imaginei com minha própria moto, mascara e capacete e uns 3 filhinhos mestiços pois não poderia mais viajar de avião e ia ter que fazer minha vida por aqui mesmo, achei que o resultado foi ótimo.

Finalmente achei a meia, eles tinham no hospital, porém custou mais caro que o meu colar de pérolas!  Agora estou de meia de alta compressão em um calor de 32oC e tomando remédio para afinar o sangue e poder seguir viagem! Maravilha!!!


Bom, tinha uma reserva em um dos melhores restaurantes da cidade que ficava na esquina do meu hotel. Pensei: Acho que é hora de comemorar! Então lá fui eu para o Ly Club, um lugar lindo, com um terraço enorme e um espelho d’água divino. O staff super gentil e atencioso e a comida soberba! Comi uma salada de broto de manga com chilli, Charlotte, ervas e bacalhau selado em um molho agridoce incrível. E o melhor de tudo! Aprendi a fazer essa salada na aula de culinária da manhã! Sem dúvida o meu prato preferido até agora! Depois comi um caranguejo com molho de tamarindo e cebola empanada com espinafre com molho de soja e alho! Não tenho explicação, foi minha melhor refeição até agora na viagem! A comida era maravilhosa, o lugar lindo e a alegria de poder continuar viajando era incontrolável!

Foi minha despedida do mundo carnívoro (pelo menos por enquanto) pois o meu Fisioterapista, Italiano, Vegano já tinha me detto a muito tempo que o meu problema do pé que nunca sarava era circulatório e para melhorar tenho que parar de comer carne entre outras coisas. Durante esse último mês que passei na Italia, comi carne somente 2 vezes e realmente me senti muito melhor. Coincidência ou não, as circunstâncias atuais me fazem querer pelo menos tentar! Ir para a Italia para se tornar vegana só acontece comigo mesmo né?

No final o que importa é que o saldo saiu positivo. A conta do hospital + a meia de ouro ficaram um pouquinho mais baratos que o colar de pérolas + o jantar! Resultado: a diversão prevaleceu!!!!

Fica aqui a dica do Ly Club que realmente merece uma visita estando em Saigon! Aliás, Saigon merece uma visita!!! 

Agora vou nessa pois demorei tanto para publicar que já mudei de cidade (sem pé inchado)! Estou em Nha Trang, uma praia maravilhosa... me esperando! Boa noite... ou Bom dia!

Ly Club
143 Nam Ky Khoi Nghia. District 3
Ho Chi Minh City (Saigon), Vietnam
+84.8.3930.5588

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Finalmente conclui que é bom ter opção!


Aeroporto! Hora de partir… O último mês foi um período de Rehab e Detox! Depois de dois meses comendo tudo e mais um pouco no curso de culinária, decididamente precisava de um Detox e então entrei também em um Rehab físico, mental, emocional...

O Rehab se deu por muitos motivos... O meu pé ainda é um problema. Já faz 6 meses que operei da última vez e tenho feito fisioterapia todo dia aqui em Firenze mas ele ainda me dá muito trabalho. Não posso negar que já melhorei muito, mas apesar de já conseguir caminhar melhor a dor ainda me acompanha diariamente. Outras dores também vieram pois como já disse em um post anterior não é só de alegrias que se vive um sabático. Coisas difíceis acontecem e temos que lidar com elas... Pra completar não consegui trabalhar em um restaurante pois o meu “Permesso de Sogiorno” (autorização para ficar no país, primeiro passo antes da cidadania) não saiu ainda e então em tempos de crise europeia ninguém iria me dar um “emprego” e arriscar ser pego pela fiscalização depois, pagar multa e ter o restaurante fechado. Sem contar os riscos para mim e o meu processo de cidadania, assim, tentando me manter fora de confusão (pelo menos nesta área) achei melhor não insistir e aceitar que não daria certo. Paciência!

Ainda assim decidi ficar mais um mês na minha cidade, Firenze, no meu detox e rehab... pensando na vida, planejando os próximos passos, tentando me curar das minhas dores. Praticamente umas férias das minhas férias! Consegui alugar um apartamento bem aconchegante, em frente ao Duomo com tudo que precisava! Elevador, forno e a dois passos do Mercato Centrale onde pude com frequência comprar os melhores ingredientes da cidade para cozinhar. Foi o mês das receitas novas. Só de pão não sei dizer quantas receitas testei. Meus visinhos e amigos na cidade se deram muito bem pois eu sozinha não dava conta de tanta coisa... Teve um dia que um visinho bateu na minha porta perguntando se eu não tinha assado nada naquele dia!

A princípio pensei em ficar até o final do ano lá, mas percebi que não fazia muito sentido. Tudo que eu tinha que fazer na Itália já tinha feito e tinha chegado a hora de partir para novos destinos, conhecer novas pessoas, viver coisas diferentes. Estava me sentindo excessivamente em casa, já até acostumada com o clima, achando 3oC uma temperatura razoável!

NOTA: Enquanto escrevo esse post já mudei de aeroporto... Comecei no aeroporto de Firenze e agora estou no aeroporto de Frankfurt esperando meu próximo vôo que vai para Bankok.... mas ainda não é esse o meu destino final! ;-)

Comecei então a pensar para onde ir e isso me fez voltar a um pensamento que tenho a muito tempo... A ignorância é amiga da felicidade! Essa foi uma máxima que eu criei e passei a considerar verdade. Sempre achei que se não sabemos as opções que temos é muito mais fácil viver e consequentemente muito mais fácil ser mais feliz com a sua realidade atual, porém me ver na sala da minha casa em Firenze, com o mapa mundi na mão pensando para onde eu vou agora e sabendo que chegar até aqui foi possível e que qualquer lugar daqui pra frente também seria possível (com raras exceções) me fez rever minha própria máxima.

Após analisar muito, conclui que ter opção é bom!!!! Na verdade ter opção é ótimo e a escolha que você faz sabendo que tem um mundo de opções e um mundo de realidades possíveis para você é realmente um presente. Pensei ainda em uma outra coisa: Felicidade de verdade é saber todas as opções que você tem e escolher a que mais te agrada; ou ainda continuar na realidade que você já estava e decidiu ficar, mas por saber que aquela é a melhor realidade para você e não porque você não tem coragem de mudar ou acha que não há outra opção para você. Pode parecer meio confuso, mas pra mim foi muito revelador e passei a ficar mais confortável com a minha falta de ignorância (pelo menos no que diz respeito as minhas opções). Suas opções contam a sua história, definem os seus caminhos e isso não pode ser ruim... A menos que você esteja escolhendo as opções erradas! :-)

Então avaliei o meu mar de opções considerando variáveis tangíveis tais como: Quanto dinheiro ainda tenho, quanto posso gastar, qual a melhor rota até o destino final, qual o clima de cada local, etc, etc, etc... mas no final tomei minha decisão predominantemente pelas variáveis intangíveis: Onde eu queria estar e quando eu queria estar.

Algumas opurtunidades são únicas e se perdermos aquela chance talvez não tenhamos outra igual na vida e eu acho que estou exatamente neste tipo de situação. Me planejei muito para tirar esse período  pra mim, e tive muita sorte de contar com o apoio de muita gente. Não sei se terei a sorte te ter uma nova oportunidade como essa no futuro e ainda que tenha, não sei se uma viagem pelo mundo será minha escolha da próxima vez, então, sem descartar as coisas práticas da vida, decidi escolher pelas minhas motivações emocionais e agora aqui estou eu, fazendo a pior rota possível em termos práticos. Saindo da Italia, indo para o Vietnam, depois para a Australia passar as festas e então para a India. Faltei na aula de Geografia com louvor!!! Ainda tentarei encaixar Indonesia e Tailândia, mas não sei se será possível, porém para agora é isso que temos: Vietnam, Australia e India. Sozinha, sem conhecer ninguém, me planejando para o pior e esperando pelo melhor!

Como sempre!